A erosão dental deixa os dentes amarelados e com a morfologia comprometida – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens |
Uma nova tecnologia, para uso profissional, pode ajudar no tratamento da erosão e da sensibilidade dos dentes. Trata-se de um hidrogel à base de quitosana, substância extraída de crustáceos como camarões, e de aditivos naturais, sem a adição de flúor, que atua nos dentes para a reposição do mineral perdido no processo corrosivo e no vedamento da superfície dos dentes, diminuindo a sensibilidade. O novo produto com o pedido de patente em andamento, através da Agência USP de Inovação (AUSPIN), foi desenvolvido pela dentista Shelyn Akari Yamakami durante seu doutorado na Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP sob orientação da professora Regina Guenka Palma Dibb.
Shelyn Akari Yamakami – Foto: Reprodução/UEM |
Shelyn conta que a erosão dental é uma doença crônica que ataca os dentes através de um processo químico sem ação de bactérias. É causada por ácidos de origem do próprio organismo ou contidos nos alimentos e as consequências desse desgaste podem ser a perda da estrutura dental, dentes mais curtos e mais amarelados, além da dor proveniente da hipersensibilidade dentinária. A nova tecnologia, afirma a pesquisadora, é capaz de vedar os túbulos dentinários, que são canais microscópicos que irradiam por baixo da superfície do esmalte até o interior do dente e são responsáveis pela sensibilidade dentária. A principal ideia, segundo Shelyn, é diminuir o processo erosivo que aumenta o problema.
Refluxo é o principal vilão, mas não o único
Um dos principais fatores da erosão dental e, consequentemente, da sensibilidade dentinária, diz a pesquisadora, é o refluxo gastroesofágico, doença causada pelo retorno do conteúdo ácido do estômago para o esôfago, garganta e boca. “No Brasil, cerca de 11% da população apresenta sintomas que são compatíveis com o refluxo”, afirma.
Outros fatores que podem acarretar no refluxo são o consumo excessivo de alimentos e bebidas ácidas, pessoas com transtornos alimentares, profissionais que sejam expostos a ácidos em seu ambiente de trabalho e até mesmo nadadores que estão constantemente em contato com o cloro na água.
Hidrogel é eficiente, mas causa da erosão deve ser investigada
O hidrogel foi desenvolvido à base de quitosana em concentração específica e aditivos naturais não tóxicos ao organismo para agir nos dentes com a dupla ação de inibir o processo erosivo e a hipersensibilidade dentinária. Segundo as autoras, não existe nada similar no mercado.
Diferentemente dos produtos atualmente comercializados, a nova tecnologia não possui adição de flúor, sendo uma alternativa para pacientes com restrição ao elemento químico. Apesar disso, Shelyn enfatiza que “o flúor ainda é utilizado para prevenção da cárie com sua eficácia amplamente comprovada na proteção dos dentes e na melhora da saúde bucal”.
A pesquisadora informa que quando os ácidos entram em contato com a superfície dos dentes o conteúdo mineral passa a ser dissolvido, tornando-os mais vulneráveis à ação das enzimas presentes na boca, o que favorece o processo erosivo ao longo do tempo. “Se a dissolução de minerais se torna cíclica, parte da estrutura dentária pode ser perdida pela ação do ácido; por conta disso adicionamos ao hidrogel agentes que atuam tanto na reposição da parte mineral, como também no vedamento da superfície do dente. Essas ações diminuem a sensibilidade na área, a progressão da erosão e consequentemente a perda irreversível da estrutura dentária”, comenta Shelyn.
A professora Regina, no entanto, alerta que a tecnologia não atua sozinha, sendo necessário o correto diagnóstico da causa do processo erosivo. Com isso, é possível agir na origem do problema, que pode ser o refluxo, problemas alimentares ou o consumo exagerado de alimentos ácidos, evitando que o processo erosivo retorne e o tratamento com o hidrogel seja possível e eficiente.
Mesmo com o pedido de patente em andamento, a professora Regina acredita que ele deve chegar o mais rápido possível ao mercado prevendo um valor acessível para comercialização. “Ao desenvolver essa tecnologia nós nos preocupamos com o custo dessa solução. Em laboratório, esse custo não é maior do que os existentes no mercado. Portanto, temos a esperança que esse produto venha com um valor muito mais acessível do que os atuais tratamentos para a sensibilidade e erosão”, conclui.
Shelyn apresentou seu trabalho de trabalho de doutorado Efeito de diferentes tratamentos na interceptação da erosão dentinária, com orientação da professora Regina Guenka Palma Dibb, à Forp, em maio de 2020.
Agência USP de Inovação
A Agência USP de Inovação (AUSPIN), criada em fevereiro de 2005, é o Núcleo de Inovação Tecnológica da USP responsável por gerir a política de inovação para promover a utilização do conhecimento científico, tecnológico e cultural na Universidade a favor do desenvolvimento socioeconômico do Estado de São Paulo e do País.
Atua diretamente na proteção do patrimônio industrial e intelectual produzido na USP, orientando docentes, alunos e funcionários na elaboração de projetos e efetuando os procedimentos necessários para o registro de patentes, marcas, direitos autorais de livros, softwares, músicas, entre outras criações.
A Agência USP de Inovação está presente em todos os campi da USP: São Paulo, Bauru, Lorena, Piracicaba, Pirassununga, Ribeirão Preto e São Carlos.
Fonte: Jornal da USP
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