Um estudo do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) avaliou, de 2020 a 2022, as particularidades do diagnóstico e acompanhamento da Prontidão Alimentar (PA) do bebê prematuro para definir uma abordagem terapêutica adequada para a rede pública. Intitulada Ferramenta de identificação de maturidade de alimentação em recém-nascido pré-termo através de biomarcadores, a análise é coordenada pela pesquisadora do IFF/Fiocruz Adriana Duarte Rocha, uma das contempladas pelo Programa de Incentivo à Pesquisa (PIP III) da instituição.
Quando o nascimento ocorre antes de completar as 37 semanas de gestação, considera-se o bebê prematuro ou pré-termo. Eles são mais propensos a ter problemas crônicos de saúde, alguns dos quais requerem cuidados hospitalares, do que bebês nascidos a termo (com 37 semanas de gestação ou mais) e devem receber atenção especial, pois infecções, asma e problemas alimentares têm maior probabilidade de se desenvolver ou persistir.
Nesse sentido, adquirir habilidades para o sucesso da alimentação por via oral do recém-nascido pré-termo (RNPT) não é uma tarefa simples, mas essencial para conseguir a alta hospitalar, considerando que uma alimentação oral malsucedida pode resultar em uma série de morbidades. Por isso, hoje em grande parte das Unidades de Terapias Intensivas (UTIs) neonatais, os bebês prematuros dependem da interpretação subjetiva dos profissionais de saúde para determinar quando é seguro alimentá-los por via oral (baseados em sinais fisiológicos como saturação de oxigênio, presença de tosse e engasgo).
“Daí a necessidade de desenvolver novas técnicas para a monitorização não invasiva neonatal, a fim de identificar novos biomarcadores (moléculas biológicas que podem ser usadas como indicadores de uma condição normal ou patológica) que ajudem a elucidar as funções biológicas para prever com precisão e segurança a prontidão oral para alimentar esta população vulnerável. Sendo assim, contribui significativamente para a melhoria do atendimento clínico e, consequentemente, para a redução dos custos associados com morbidades alimentares no recém-nascido pré-termo”, explica a pesquisadora.
“Foram incluídos 38 recém-nascidos na amostra e realizadas 190 coletas de saliva para extração do ácido ribonucleico (RNA), que atua na produção de proteínas. As amostras foram coletadas de todos os bebês participantes do estudo, nos seguintes momentos: 1) com 72 horas de vida; 2) alimentação enteral parcial (administrada ao paciente por meio de uma sonda fina, que é um tubo fino, macio e flexível que leva a dieta líquida diretamente para o estômago ou intestino); 3) alimentação enteral completa; 4) alimentação oral parcial; 5) alimentação oral completa. Foram realizadas 190 avaliações clínicas da sucção não nutritiva e 38 de sucção nutritiva dos 38 recém-nascidos incluídos na pesquisa”, detalha Adriana.
Resultados obtidos
O projeto permitiu identificar que a expressão dos neuropeptídeos (substâncias químicas produzidas e liberadas pelas células cerebrais) que sinalizam fome/saciedade, a energia constante do corpo humano, a execução da motricidade orofacial e a geração de novos neurônios promotores do sentido do olfato, são bons preditores (na saliva neonatal) de prontidão alimentar por via oral.
“Os neuropeptídeos (substâncias químicas produzidas e liberadas pelas células cerebrais) do desenvolvimento facial não mostrou ser um bom preditor de prontidão por via oral em recém-nascidos saudáveis. Também, observamos especificamente que a expressão salivar dos neuropeptídeos relacionados aos movimentos necessários para execução da sucção são diferentes entre meninos e meninas em recém-nascidos pré-termo, sendo mais expresso nas meninas”, esclarece Adriana.
Próxima fase
“Temos como perspectiva eleger o biomarcador preditivo de Prontidão Alimentar (PA) na nossa população; definir a partir da expressão do biomarcador e da avaliação da PA o momento ideal para introdução da alimentação oral; construir e aplicar um protocolo de PA do recém-nascido pré-termo para uma abordagem terapêutica adequada para a rede pública; e capacitar profissionais da área para realizar a avaliação da prontidão alimentar”, conclui a coordenadora do estudo.
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias
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