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© Tânia Rêgo/Agência Brasil |
O avanço dos serviços de transporte de passageiros por motociclistas de aplicativo, como Uber Moto e 99Moto, preocupa especialistas e acende o alerta para o aumento da mortalidade no trânsito brasileiro. Segundo o técnico de pesquisa e planejamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Erivelton Guedes, a regulamentação da atividade pode transmitir uma falsa sensação de segurança. “É uma tragédia anunciada. Vejo com muito pessimismo essa evolução”, afirmou, em entrevista à Agência Brasil.
A preocupação foi registrada no Atlas da Violência 2025, produzido pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O estudo aponta que, enquanto os homicídios caíram, o número de vítimas de acidentes de trânsito cresceu desde 2020. Em 2023, foram registradas 34.881 mortes no trânsito — aumento em relação às 31.945 de 2019. As motocicletas respondem por uma em cada três dessas mortes, totalizando 13.477 vítimas no último ano analisado.
Guedes destaca que passageiros estão ainda mais vulneráveis que condutores, muitas vezes sem vestimenta adequada e expostos a quedas e colisões graves. Apesar dos riscos, ele acredita que os serviços dificilmente serão suspensos devido à forte pressão econômica e à falta de alternativas de emprego para os motociclistas.
A Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) reforça o alerta. O presidente da entidade, Antonio Meira Júnior, lembra que a probabilidade de morte em acidentes envolvendo motos é 17 vezes maior do que em automóveis. Além da ausência de proteção, fatores como as condições do asfalto e a circulação entre veículos maiores aumentam a gravidade das ocorrências. “O impacto social é imensurável, com muitas vítimas ficando com sequelas permanentes”, disse.
Histórias como a da assistente social Erika Rogatti ilustram essa vulnerabilidade. Moradora do Rio de Janeiro, ela sofreu uma queda durante uma corrida de aplicativo que resultou em fratura no pé e afastamento de mais de 20 dias do trabalho. Mesmo após quatro meses, ainda realiza fisioterapia para recuperar os movimentos.
Para o professor Glaydston Ribeiro, da Coppe/UFRJ, a popularização das motos é reflexo da precariedade do transporte público no Brasil, especialmente nas periferias. Ele defende que, ao invés de proibir o serviço, sejam oferecidas alternativas seguras e acessíveis de mobilidade.
As empresas afirmam investir em segurança. A Uber diz contar com medidas como verificação de identidade, alertas de velocidade e seguro para condutor e passageiro. Já a 99 afirma que apenas 0,0003% das viagens registraram acidentes e oferece orientações sobre segurança, contestando que aplicativos sejam responsáveis por aumento nas estatísticas de sinistros.
Enquanto especialistas e empresas divergem sobre os impactos, o número crescente de mortes envolvendo motocicletas indica que o desafio vai além da regulamentação: envolve infraestrutura urbana, educação no trânsito e oferta de alternativas seguras para trabalhadores e passageiros.
Informações da Agência Brasil
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