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Endividamento das famílias brasileiras bate recorde e reforça urgência da educação financeira nas escolas

Foto: Reprodução/Agência Senado 

Quase 80% das famílias brasileiras enfrentam hoje algum grau de endividamento, segundo levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Em agosto de 2025, 71,7 milhões de pessoas estavam com o nome negativado – um aumento de 9,2% em relação ao mesmo período de 2024, o maior número da série histórica.

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio (CNC), aponta que 78,8% das famílias têm dívidas, o maior índice desde 2022. Entre elas, 30,4% estão com contas em atraso. Há sete anos, o percentual era de 60,3%, o que revela um crescimento acelerado do endividamento.

Crédito caro e descontrole financeiro

Para especialistas, a combinação de crédito caro, inflação persistente e falta de educação financeira agrava o problema. O economista William Baghdassarian, do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), alerta para o impacto do fenômeno na economia.

“Se a pessoa está inadimplente, ela não consegue consumir, não consegue financiar um bem durável. Isso prejudica o orçamento doméstico e a economia como um todo. A inadimplência retarda a recuperação econômica”, explica.

O consultor legislativo do Senado, Edilson Araújo, lembra que muitas famílias passaram a usar o crédito como complemento de renda, e não para objetivos pontuais.

“Quando o crédito se torna parte da renda mensal, é sinal de que falta preparo e educação financeira”, destaca.

Outro agravante é o custo elevado do dinheiro emprestado. “No Brasil, as taxas de juros do cheque especial e do rotativo do cartão são absurdamente elevadas. O consumidor muitas vezes nem sabe quanto está pagando a mais”, aponta Carlos Alberto Ramos, professor de Economia da UnB.

Educação financeira como solução

Experiências em escolas públicas mostram que a educação financeira pode ajudar a reverter o quadro. No Colégio Estadual Duque de Caxias, em Corbélia (PR), alunos aprendem desde cedo a organizar orçamentos, planejar gastos e compreender juros. A diretora da escola, Nilcea Schwambach, afirma que a prática tem transformado o comportamento dos estudantes.

“Eles passam a entender na prática o que é receber um salário, pagar contas e planejar gastos. É uma vivência que transforma a relação deles com o dinheiro”, afirma.
 
Debate no Congresso

No Senado, avançam projetos para incluir a educação financeira no currículo da educação básica. O PL 5.950/2023, do senador Izalci Lucas (PL-DF), e o PL 1.510/2025, de Nelsinho Trad (PSD-MS), defendem que o tema seja obrigatório. Também tramita o PL 3.329/2025, que destina parte do orçamento federal para campanhas de conscientização da população sobre finanças pessoais.

Segundo o senador Confúcio Moura (MDB-RO), autor do projeto de conscientização, a medida é necessária para mudar o comportamento da sociedade.

“Precisamos introduzir a educação financeira em nossas vidas, como se fez na China e na Índia, onde a poupança é tratada como valor cultural e familiar”, disse.
Resultados já visíveis

Minas Gerais é um exemplo de política pública que começa a mostrar resultados. Desde 2022, o estado incorporou a educação financeira ao currículo do ensino fundamental e médio e capacitou professores em parceria com o Banco Central. Em 2025, cerca de 175 mil estudantes participam das aulas.

Para Araújo, os efeitos dessas políticas serão percebidos no longo prazo:

“O que se espera é uma redução do endividamento das famílias e uma maior conscientização no consumo. É uma política preventiva, que prepara a próxima geração para lidar melhor com o dinheiro”, conclui.

Agência Brasil 

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